sexta-feira, 12 de junho de 2009

Por que queremos ter um filho?

Sim, o que leva uma mulher e um homem a quererem ter um filho?

Dirão os mais críticos que hoje em dia muitas mulheres tomam esta decisão sozinhas, sem necessitarem da aprovação, ou até da participação (que desgraça, se isto pega ….) de um homem.

Sim, é verdade!

Mas o que pretendia não era discutir a emancipação feminina, ou segundo a minha opinião, a oficialização da emancipação feminina, por que na realidade as mulheres sempre fizeram o que bem entendiam, o que muitas vezes correspondia a agir totalmente à revelia do "HOMEM", a autoridade oficial. E não eram só milagres das rosas …

Mas dizia eu:

O que leva um Humano a querer ter um filho?

Se fizéssemos uma pesquisa na internet, no Google, no Bing ou noutro qualquer outro motor de busca sobre este tema, com certeza que iríamos encontrar centenas de hits, sendo que a maior parte deles se devem à inépcia do motor de busca e não é qualidade e relevância do conteúdo encontrado.

Mas, e pondo de parte estas picuinhices da informática, "a ciência que veio para resolver problemas que não tínhamos antes do seu aparecimento", talvez pensássemos em autores famosos como Charles Darwin.

Em três frases, Charles Darwin advogava que os seres vivos só conseguem vencer a luta da sobrevivência e da evolução selectiva por se adaptarem constantemente, dando melhores condições à sua prole para sobreviverem.

Seria como se cada ser vivo estivesse num ciclo constante de reencarnações, sem Karma à vista, procurando em cada uma delas melhorar, fugindo a sete pés de uma extinção previamente anunciada.

Segundo esta teoria, que se procura afincadamente provar através dos achados arqueológicos e de teorizações criativas dignas de um Pulitzer, cada ser tentaria, no limite das suas forças, procriar, transmitindo genes o mais apurados possível, e produzindo o maior número de réplicas possível (quanto mais filhos melhor!!).

Bem e os que matam os filhos?

E os que abortam?

E os que violam os filhos?

E os que trazem subalimentados e doentes, claramente carentes de cuidados?

Embora não esteja em posição de refutar a Evolução, e na verdade nem o pretenda neste fórum, não me satisfaz a justificação ….

Por outro lado, quase todos nós nos países europeus, e sobremaneira nos que beiram o mediterrâneo, fomos ensinados na tradição judaico-cristã do "multiplicai-vos e enchei a terra". Quantos mais forem, mas servos do Senhor existiriam e mais o Seu nome seria glorificado.

Não fora o celibato obrigatório dos membros de boa parte das ordens religiosas, e dos mais proeminentes representantes do ramo Católico Apostólico Romano, entre outros, e eu quase que acreditava que esse era o fundamento para alguém querer ter um filho. Afinal, é popular a política anti-anticoncepcionais que especialmente a Igreja Católica segue. Nesta perspectiva faz sentido, se o objectivo é gerar servos para servir o Senhor, então uma maldita pílula, mesmo que do dia seguinte, um demoníaco preservativo, ou uma qualquer cirurgia que interrompa os fluxos migratórios das células reprodutoras no corpo de um humano são um sacrilégio e portanto algo a ser combatido com todas as energias.

Mas quando olho para poços cheios de cadáveres de crianças encontrados em mosteiros ao cuidado destas ordens religiosas durante a idade média, nos criminosos abusos sexuais cometidos por sacerdotes celibatários sobre coroinhas desprotegidos e que normalmente chegam à imprensa décadas depois com titulo como "Igreja paga milhões de indemnização por abusos contra crianças de 8 anos", o que posso pensar?

Que também não será esse o motivo. Afinal quem pode ignorar esta realidade e justificar os seus actos de forma tão irresponsável e dependente?

Passados estes dois argumentos, o que sobra?

A vontade de ser pai/mãe porque me falta alguma coisa….

Chega a altura em que uma mulher não fica completa se não for mãe – dizem alguns

Ou então a vontade de perpetuar um legado.

"Todo o meu trabalho, tudo o que eu construí será continuado pelo meu filho" – alguns já nem se referem aos filhos como tal, apenas como "o meu herdeiro", como se tudo dependesse de uma porção de refugo, como são as coisas que o dinheiro pode genuinamente comprar.

Mas de todas a que eu gosto mais é a que está sintetizada na expressão:

"Cuida bem do teu filho porque será ele a escolher o lar de terceira idade para onde vais" J

Ou seja procriar não com o objectivo de preservar a espécie, não com o objectivo de contribuir para um desígnio maior, antes com o singelo objectivo de quando for velhinho poder ter quem tome conta de mim, ou pelo menos que me visite de quando em vez, nem que seja só no natal.

Como definiríamos estas ultimas razões apresentadas?

Egoísmo é uma palavra que vos parece bem?

Porque digo que a maior parte das pessoas que fazem filhos, o fazer por egoísmo – sim eu sei que querer ter e fazer não são sempre expressões sinónimas, ate porque muitos dos que os fazem na verdade não os querem ter …

1 Momento de loucura com contas mal feitas – 1 filho

1 "Manguito roto" – 1 filho

1 Casamento tremido – 1 filho

1 Coração vazio – 1 filho

Por isso a tão proverbial frase que nos anos 80 circulava no vidro traseiro de muitos carros – tenha cuidado, 80% das pessoas foram feitas por acidente – profundo mas real.

Avaliado isto, e com tão boas razões para ter um filho, talvez nos perguntemos porque é que a população europeia composta de Cidadãos A - trabalhadores, integrados, socialmente activos e contribuintes líquidos para os orçamentos dos diferentes países do velho continente - está a reduzir-se de forma tão significativa?

Na realidade, parece que os europeus, sabe Deus se por se estarem a tornar ateus, se por acharem que já atingiram a perfeição, se por se terem tornado egoístas a um tal extremo que pretendem auto-satisfação mas só se esta não der muito trabalho, ou por se simplesmente estão demasiado exposto ao stress, à poluição, aos imensos estímulos recreativos que actualmente existem (não é só a TV) e às relações "tipo-coelho" onde muitas vezes o que fica a faltar é saber o nome da(o) parceira(o) fortuita(o) que acabou de sair porta fora e que temos a certeza que não voltará, deixaram de fazer filhos, pelo menos ao ritmo (ritmo aqui é uma palavra infeliz, mas… ) que o faziam antigamente.

Os governos europeus começam a tentar aliciar os casais a ter mais filhos. As benesses que estão a ser atribuídas são tão pouco significativas que os Cidadãos A não se sentem motivados a procriar simplesmente porque isso dará mais 1 mês em casa para um dos pais, ou eventualmente mais uns trocos. Por outro lado, os cidadãos B aproveitam essas benesses e procriam de forma extensiva, aliás alguns deviam estar colectados nas finanças como procriadores, uma vez que o único rendimento fixo que detêm provem dos para cima de meia dúzia de filhos que alegremente conceberam e trouxeram a este mundo à custa do erário público. Isto dá que pensar, uma vez que se por um lado não queremos segregar este ou aquele pela sua condição social, situação económica ou outra, por outro lado não devia ter o estado uma politica que motivasse os Cidadãos A a ter condições para criar os seus petizes, e de faze-lo numa média de 2,1 como dizem os estudos sobre a evolução demográfica?

Nem que fosse em nome da dar uma ajuda à selecção natural de Darwin, permitindo que estejamos neste momento a construir a desagregação da sociedade europeia como a conhecemos e a voltar a um certo tipo de barbárie?

Pois é ….

No meu caso, o meu filhote foi um exercício de egoísmo partilhado com a minha esposa. Acho que não estávamos vazios, ou em crise. Acho mesmo que foi um momento de loucura, mas sem contas, porque quando se faz certas coisas é impossível fazer contasJ.

2009.06.12

Pedro


terça-feira, 9 de junho de 2009

A Equipa que preferiu morrer

Quando um ideal está acima de cada um de nós:

A história do futebol mundial inclui milhares de episódios emocionantes e comovedores, mas seguramente nenhum seja tão terrível como o protagonizado pelos jogadores do Dinamo de Kiev nos anos 40. Os jogadores jogaram uma partida sabendo que se ganhassem seriam assassinados e, no entanto, decidiram ganhar. Na morte deram uma lição de coragem, de vida e honra, que não encontra, por seu dramatismo, outro caso similar no mundo.

Para compreender sua decisão, é necessário conhecer como chegaram a jogar aquela decisiva partida, e por que um simples encontro de futebol apresentou para eles o momento crucial de suas vidas.

Tudo começou em 19 de Setembro de 1941, quando a cidade de Kiev (capital ucraniana) foi ocupada pelo exército nazista, e os homens de Hitler aplicaram um regime de castigo impiedoso e arrasaram com tudo. A cidade converteu-se num inferno controlado pelos nazis, e durante os meses seguintes chegaram centenas de prisioneiros de guerra, que não tinham permissão para trabalhar nem viver nas casas, assim todos vagavam pelas ruas na mais absoluta indigência. Entre aqueles soldados doentes e desnutridos, estava Nikolai Trusevich, que tinha sido guarda-redes do Dínamo de Moscovo.

Josef Kordik, um padeiro alemão a quem os nazis não perseguiam, precisamente por sua origem, era torcedor fanático do Dínamo de Moscovo. Num dia caminhava pela rua quando, surpreso, olhou um mendigo e de imediato se deu conta de que era seu ídolo: o gigante Trusevich.

Ainda que fosse ilegal, mediante artimanhas, o comerciante alemão enganou aos nazis e contratou o guarda-redes para que trabalhasse em sua padaria. Sua ânsia por ajudá-lo foi valorizado pelo guarda-redes, que agradecia a possibilidade de se alimentar e dormir debaixo de um teto. Ao mesmo tempo, Kordik emocionava-se por ter feito amizade com a estrela de sua equipe.

Na convivência, as conversas sempre giravam em torno do futebol e do Dínamo de Moscovo, até que o padeiro teve uma ideia genial: encomendou a Trusevich que em lugar de trabalhar como ele, amassando pães, se dedicasse a buscar o resto de seus colegas. Não só continuaria lhe pagando, senão que juntos podiam salvar os outros jogadores.

O guarda-redes percorreu o que restara da cidade devastada dia e noite, e entre feridos e mendigos foi descobrindo, um a um, a seus amigos do Dínamo de Moscovo. Kordik deu trabalho a todos, se esforçando para que ninguém descobrisse a manobra. Trusevich encontrou também alguns rivais do campeonato russo, três jogadores da Lokomotiv de Moscovo, e também os resgatou. Em poucas semanas, a padaria escondia entre seus empregados uma
equipe completa.

Reunidos pelo padeiro, os jogadores não demoraram em dar o seguinte passo, e decidiram, alentados pelo seu protector, voltar a jogar. Era, além de escapar dos nazis, a única que bem sabiam fazer. Muitos tinham perdido suas famílias nas mãos do exército de Hitler, e o futebol era a última sombra mantida de suas vidas anteriores.

Como o Dínamo de Moscovo estava enclausurado e proibido, deram um novo nome para aquela equipe. Assim nasceu o FC Start, que através de contactos alemães começou a desafiar a equipes de soldados inimigos e seleções formadas no III Reich.

Em sete de junho de 1942, jogaram sua primeira partida. Apesar de estarem famintos e cansados por terem trabalhado toda a noite, venceram por 7 a 2. Seu seguinte rival foi a equipe de uma guarnição húngara, ganharam de 6 a 2. Depois meteram 11 gols numa equipa romena. A coisa ficou séria quando em 17 de Julho, enfrentaram uma equipe do exército alemão e golearam por 6 a 2. Muitos nazis começaram a ficar chateados pela crescente fama do grupo de empregados da padaria e buscaram uma equipe melhor para ganhar deles. Trouxeram da Hungria o MSG com a missão de derrotá-los, mas o FC Start goleou mais uma vez por 5 a 1, e mais tar de, ganhou de 3 a 2 na revanche.

Em seis de Agosto, convencidos de sua superioridade, os alemães prepararam uma equipe com membros da Luftwaffe, o Flakelf, que era uma grande equipa, utilizado como instrumento de propaganda de Hitler. Os nazis tinham resolvido buscar o melhor rival possível para acabar com o FC Start, que já gozava de enorme popularidade entre o sofrido povo refém dos nazis. A surpresa foi grande, porque apesar da violência e falta de desportivismo dos alemães, o Start venceu por 5 a 1.

Depois dessa escandalosa queda da equipa de Hitler, os alemães descobriram a manobra do padeiro. Assim, de Berlim chegou uma ordem de acabar com todos eles, inclusive com o padeiro, mas os hierarcas nazis locais não se contentaram com isso. Não queriam que a última imagem dos russos fosse uma vitória, porque acreditavam que se fossem simplesmente assassinados não fariam nada mais que perpetuar a derrota alemã.
A superioridade da raça ariana, em particular no desporto, era uma obsessão para Hitler e os altos comandos. Por essa razão, antes de fuzilá-los, queriam derrotar a equipa num jogo.

Com um clima tremendo de pressão e ameaças por todas as partes, anunciou-se a vingança para 9 de Agosto, no repleto estádio Zenit. Antes do jogo, um oficial da SS entrou no vestiário e disse em russo:

- "Vou ser o juiz do jogo, respeitem as regras e saúdem com o braço levantado", exigindo que eles fizessem a saudação nazista.

Já no campo, os jogadores do Start (camisa vermelha e calção branco) levantaram o braço, mas no momento da saudação, levaram a mão ao peito e no lugar de dizer: - "Heil Hitler!", gritaram - "Fizculthura!", uma expressão soviética que proclamava a cultura física.

Os alemães (camisa branca e calção negro) marcaram o primeiro golo, mas o Start chegou ao intervalo do segundo tempo ganhando por 2 a 1.

Receberam novas visitas ao vestiário, desta vez com armas e advertências claras e concretas:

"Se vocês ganharem, não sai ninguém vivo". Ameaçou um outro oficial da SS. Os jogadores ficaram com muito medo e até propuseram-se a não voltar para o segundo tempo. Mas pensaram em suas famílias, nos crimes que foram cometidos, na gente sofrida que nas arquibancadas gritava desesperadamente por eles e decidiram, sim, jogar.

Deram um verdadeiro baile nos nazis. E no final da partida, quando ganhavam por 5 a 3, o atacante Klimenko ficou cara a cara com o guarda-redes alemão. Deu lhe um drible deixando o coitado estatelado no chão e ao ficar em frente a trave, quando todos esperavam o gol, deu meia volta e chutou a bola para o centro do campo. Foi um gesto de desprezo, de deboche, de superioridade total. O estádio veio abaixo.

Como toda Kiev poderia a vir falar da façanha, os nazis deixaram que saíssem do campo como se nada tivesse ocorrido. Inclusive o Start jogou dias depois e goleou o
Rukh por 8 a 0. Mas o final já estava traçado: depois dessa última partida, a Gestapo visitou a padaria.

O primeiro a morrer torturado em frente a todos os outros foi Kordik, o padeiro. Os demais presos foram enviados para os campos de concentração de Siretz. Ali mataram brutalmente a Kuzmenko, Klimenko e o guarda-redes Trusevich, que morreu vestido com a camiseta do FC Start. Goncharenko e Sviridovsky, que não estavam na padaria naquele dia, foram os únicos que sobreviveram, escondidos, até a libertação de Kiev em Novembro de 1943. O resto da equipe foi torturada até a morte.

Ainda hoje, os possuidores de entradas daquela partida têm direito a um assento gratuito no estádio do Dínamo de Kiev. Nas escadarias do clube, custodiado em forma permanente, conserva-se actualmente um monumento que saúda e recorda àqueles heróis do FC Start, os indomáveis prisioneiros de guerra do Exército Vermelho aos quais ninguém pôde derrotar durante uma dezena de históricas partidas, entre 1941 e 1942.

Foram todos mortos entre torturas e fuzilamentos, mas há uma lembrança, uma fotografia que, para os torcedores do Dínamo, vale mais que todas as jóias em conjunto do Kremlin. Ali figuram os nomes dos jogadores. Abaixo a única foto que se conserva da heróica equipa do Dínamo de Moscovo e o nome de seus jogadores.


Pedro

2009.06.09