O grande dia!
O grande dia nem sempre é o primeiro dia.
Certo escritor antigo disse que:
"Melhor é o bom nome do que o melhor unguento, e o dia da morte do que o dia do nascimento." ( Rei Salomão em A Biblia -Eclesiastes 7:1)
O escritor sagrado procura transmitir algo mais profundo, que, dada a natureza humana, só no momento da morte é que sabemos exactamente quem é a pessoa que temos perante nós.
Mas, se tivéssemos a leviandade de apartar este profundo ensinamento, eu poderia dizer sem nenhuma hesitação ou receio que este homem não poderia ter sido pai e experimentado o turbilhão de sentimento daquele dia.
No meu caso, O Grande Dia como já deve ter adivinhado foi o nascimento do meu filho.
Foi o melhor dia da tua vida? - Perguntarão os mais indagantes e afectados pelo bichinho da indomável curiosidade.
Não sou louco a ponto de dizer que sim, mas também não sou inconsciente a ponto de dizer que não.
Foram pelo menos momentos dos mais intensos, num misto de adrenalina, emoção e medo.
Houve algumas coisas inesquecíveis nesse dia:
Já por semanas que a Vera era a mulher por detrás da barriga, parecia que tinha um tambor escondido dentro do vestido.
Naquele dia, e após umas três ameaças que se resolveram com repouso, chegara finalmente o dia.
Eram uma 8:30 da noite quando fomos direitinhos ao hospital. Mal entramos na auto-estrada encostamos na berma.
Para além de todos os nervos face á situação, agora a Vera vomitava abundantemente com a porta do carro aberta.
O meu coração bombeava todo o sangue que podia. Sentia as minhas faces vermelhas, quentes de todo o frenesim.
Chegamos ao hospital 5 minutos depois!
Em 10 minutos a Vera entrava na área da Maternidade. Fiquei cá fora com a cabeça a vaguear, com cada pensamento a ser atropelado por outro e mais outro.
Não havia problema, afinal um amigo meu tinha ido umas 10 vezes com a mulher á maternidade e era sempre falso alarme.
Deixei-me sorrir, era só a primeira de muitas vezes que viria ali. Um ritual que estava condenado a repetir vezes sem conta, num teste constante aos nervos e á sanidade mental de qualquer um.
"É a sua senhora que está lá dentro?"
Dei um pulo ao ouvir a voz, disse que sim. Sim era eu.
Onde estão as coisas dela? – Perguntou a enfermeira, corpulenta, com uma simpatia de Freddy Krugger.
Ora se toda a gente vai milhentas vezes á maternidade, por conta de ameaços, dores e coisas que tais, por que é que eu ia levar a mala logo da primeira vez ?
Calma, eu tinha deixado na mala do carro, a uns 100 metros do hospital.
Como diria um amigo meu – Fugi até ao carro, peguei na mala e voltei o mais rápido que pude.
Já de mala na mão a enfermeira desapareceu pelo meio das portas de vaivém, que simpaticamente ficaram ali, a dizer-me adeus, como que a provocar-me e a dizer – nem sabes o que ainda vais passar.
No momento em que a enfermeira grunhiu pela mala, eu percebi:
Aquele seria verdadeiramente o GRANDE DIA
Pedro
2008-10-19

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